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Mostrando postagens de 2021

Vivo

Vivo sentindo  Mas, duvido até que esteja vivo Habito um existir pausado Da vida que vivia e até sorria Pra vida que viria se amanhecesse o dia Sinto demorado Arrastado Amarras prendem minha mente Afastam meu passado  Sufocam meu presente  Escondem o daqui pra frente Ouço ao longe a vida mal vivida Vejo distante uma vida mal sentida Sinto como se não mais existisse  Invejo o normal que não existe  E, me pergunto: Quem anda parado, vive? Gustavo Afonso

Lágrima falante

Ontem, que já era hoje  Meu peito doía  E, embora o frio amenizasse Meu corpo tremia Amanhã, que já era depois Meu sonho fugia O futuro, que já era; já foi Marcava; prendia  E o sonho, de insano acordou Tal epifania  Da esperança, o fogo apagou  Fez noite do dia Do choro, tomei-me a escrever Como se pudesse dizer  Em forma, poesia Aquilo tudo que há tanto sentia Um dicionário, enciclopédia  Ou até a Sagrada Bíblia  Não poderia; contaria jamais  O que aquela lágrima dizia Gustavo Afonso

Amor sobre tela

Borboletas em meu estômago Passarinhos cantam meu peito Planto e sonho um voo amor Fruto maduro do meu desejo Um amor que não senti Uma vida que não vivi Projeto o que imagino Escrevo o que há por vir E se não existe, é como quero Um girassol verde esmeralda Um rubi preto e amarelo   Tem cheiro de terra seca E de mar doce e sereno Tem muito som e pouca letra É tão imenso que é pequeno   E nesse muro pinto o amor Que imagino um dia sentir Que não seja menos que muito espero A razão; meu existir Gustavo Afonso

Saudade vazia

Saudade dos amores fugazes Dos amores que partem De partir e esquecer   Saudade da pouca existência Da escondida carência De mais me perder   Saudade de navegar no raso Sofrer por acaso E no minuto seguinte transcender   Saudade do troco trocado Do corpo marcado Sem lembrar o porquê   Saudade de sentir, somente A noite que sente Saudade de sem sentido viver Gustavo Afonso

Trem Passageiro

Trem passageiro  Fiel escudeiro Das minhas viagens Trem passageiro Que passa ligeiro E arrasta saudades Trem traiçoeiro  Engata meu peito Em meio a miragens Trem forasteiro Foi-se inteiro  Voltou a metade Trem sem espelho  É o trem lugarejo Da minha vontade Trem passageiro  Trem prisioneiro  Sem identidade Trem passageiro  É Trem sorrateiro Partiu sem alarde Trem jardineiro  Montou um canteiro  Com as minhas folhagens  Partiu o primeiro  De vazio maleiro De felicidade Trem passageiro  Não passa, que nada É trem derradeiro Carrega tudo, tanto, desgraça  Arrasta a esperança  E não volta Trem... Passa Vai-te rasteiro Desfaz o enredo  Muda o roteiro  E volta verdade Pro Trem passageiro  Ser Trem companheiro  Estação de embarque De cada vagão  Então, irmão  De nova realidade Batida ou nunca antes vista  Mas que seja, enfim - ou outra vez - Trem liberdade

Alfabeto velho-novo

Ano Novo Bate-bola Continuam cantando os sabiás De repente, ainda chova nas roseiras E aves gorjeiam por aqui e por lá Feliz 2021, dizem Gritando uma esperança tão combalida Há descrença, que teima; nos faz desacreditar Imaginamos um mundo bem distinto Já todo pronto para mudar Luzes acesas pelo destino Matando o medo que está no ar Nosso sonho, é novo ninho O novo ar pra respirar Percebemos, mesmos espinhos Que teimam nos engasgar Ruas de lama, mesmo caminho Sujas do lixo que não foi limpo Transpassado do ano que quer ficar Um ano novo, não é tão simples Vacinar almas é libertar Xeque-mate nos tempos tristes Zelar o próximo é nos salvar                                                                                                          Gustavo Afonso