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Hoje, poeta

Hoje, sou capaz de escrever, escrever, escrever... Embebedar-te de palavras Engasgar-te de rimas Entupir-te de versos E te matar de poemas Hoje, posso não parar Destacar cada detalhe Cada gesto, brilho, sorriso, olhar Hoje, sou perdurar Hoje, posso de tudo falar Posso boa sorte considerar Ou até lamentar Hoje, posso inventar Hoje, posso comemorar O momento, o encontro, o estar Hoje, posso, também, chorar O que sei que não será Posso mudar a perspectiva Cambiar o sentido Engatar a ré E, junto, acelerar Hoje, não faltam versos Nem sequer sonetos Hoje, não falta concreto Nem tinta, nem gesso Hoje, sou abundância Digo, desenho, crio Hoje, posso não acabar Sou presente de futuro e lembrança Hoje, não durmo Para nunca mais me tapar Da noite, noturno Sei que o dia poderá me calar Rogo, grito, esmurro Temo o sono a me atraiçoar Resisto, impero, me iludo Seguro minutos e arrasto segundos Percebo, entendo, me entrego O dia precisa nascer E o abajur

Escrever

Escrever é desabafar com a alma Falar quando o peito engasga Gritar quando a dor amordaça Agir quando o medo te trava Ousar quando a coragem acovarda Escrever é transmitir com uma palavra Dizer com uma vírgula Fazer entender em qualquer língua Escrever é criar Recriar Transformar É dar sentido à vida Escrever é escapamento De lixo, dor, sofrimento Escrever é escape De carinho, amor, sentimento Escrever é saída única E beco sem saída Escrever é fuga É liberdade entregue, perdida Escrever é ganhar força É aprender a sofrer Escrever é acostumar Escrever é, plenitude, viver Gustavo Afonso

Arrependimento

Arrependimento O pior dos sentimentos Eu podia, eu podia, eu podia... (e devia?) Podia ter feito diferente Mudado o destino Convencer o corpo, a mente Trocado o sentido Uma palavra bem pensada Uma palavra abafada Palavra instinto, solta, voa Vale palavra mal falada? Um convite apressado Um silêncio congelado Crio, invento, jogo Ou me deixo ser jogado? Nunca soube jogar Sempre joguei com o fígado, com os nervos Sempre acelerei pelos medos E fui tomado pelos desejos Um gesto muda tudo Ou nem mesmo o olhar O toque, o cheiro, o jeito E se tentasse aquele beijo? O mais difícil é o limite O que posso, onde, como Até onde minhas ações podem mudar o meu, o seu, o nosso caminho Rumo Basta querer? Agir por impulso Ou pensar muito antes de fazer? Penso Teu encontro me desencontrou Desde que te encontrei No mirado (insistido, suado), marcado ou fortuito Foi no ponto que desencaminhei Posso te convencer? Ainda posso? Começou tarde (ou antes da hora) o

Papel vazio

Havia tempo sem tinta no papel Sobrava muito e faltava o que devia Mas teu sorriso, só na memória A pele arrepiada A voz do João, o Nogueira, ao fundo Lembraram-me o sofrer Fizeram-me escrever Bom é ser neutro, muro Não sentir Mas quando a gente sente E desce a cachaça ardente Os acordes são mais dolentes Doentes O choro sai O texto vai Paralisa Falta rumo na vida O que falta até uma criança adivinha É o sorriso, teu sorriso ou outro É encontrar o sorriso Ou reencontrar É encontrar o sentido Ou se deixar levar João se cala, canta Edu Ao arranjo do Tom Nos caminhos do som Que bom seria Se o piano da canção A gaita e o acordeão Entonassem minha vida Mas o que me leva é descaminho O que me arrasta, me descarrega Solta, me rasga, me cala, me rala Mantém-me mais sozinho Gustavo Afonso

Marco

De ponto em ponto Um novo laço Encontro em conto De novo traço Um desabafo Mal mastigado E vomitado Tal superado Qual renovado Mas machucado Cicatrizado Sempre marcado Mato queimado Mesmo molhado Quando não morre Cresce mais fraco E quando cresce É derrubado E quando vive É maltratado E quando insiste É atacado Se desiste É mal falado Cheiro, olho, toco, tato Fraco, perco, queimo, caco Resisto em desistir Agarro ao cair Seguro ao persistir Não calo Não abro Ultrapasso Mal colocado Fora de esquadro Fora de espaço Aperto ou largo Esqueço ou gravo Corro, parado Desnorteado Pranto calado Ponto vazio Interrogado Fora de trilho Encruzilhado Corro de frente Para o passado Então se sente O tal presente E o Futuro É o que dizem A Deus pertence Reticente Angustiado Tal conselho Não escutado Eu mesmo vejo Eu mesmo faço Teimo em sentir Sem destino Eu me aguardo Gustav

Caos

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Cenário, caos, caótico De sítio, de guerra, de ódio Mergulho, misturo, me incluo Respiro, enxergo, flutuo Tanto que vejo, que vemos Que desacreditamos que podemos Mudar as coisas: o que nos interessa mais Transformar o mundo Mesmo que por um segundo Uns sobrevivem, como podem Outros exterminam os que só sofrem No fundo da condução Dentro do turbilhão No olho do furacão Tento descrever, sem emoção Mais um corpo que se estende pelo chão Por acidente, violência ou omissão Banal, pouco causa comoção Insensível, esfriaram o coração O seu, o meu, o da nação Do mundo, que não enxerga o irmão Do tempo, que escorre pela mão Veloz, lembra um avião Sem nos dar tempo de refletir em nossa ação Tempo que não dura, na luta pelo pão Tempo que sobra, transborda Tempo que existe; pra agressão Temos que insiste; pra dispersão Tempo que ainda nos permite Por quanto tempo, é o mistério que existe Se vai dar tempo; é ser humano quem deci

SUFOCO

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É tudo, é tanto, pranto É pouco, vazio, vácuo É muito grito E muito silêncio É revolta É tristeza É ódio ------------------------------------- Queria - quero - que minhas lágrimas se transformassem em palavras E ações Mas meus olhos estão secos Meu peito, cheio Meu corpo, desguiado, treme Quer agir. Precisa agir. O que fazer quando não sabem o que fazer? O que fazer quando o ódio te faz odiar E o amor parece evaporar? É sede. É sangue. É morte É negro. É criança. É pobre É arma. É a bíblia da bala. Não é mais nada. Qual a (re)ação? É perdida, subtraída Calada, censurada Acovardada, escondida Distorcida, adulterada É limitada, enquadrada Esvaziada e sussurrada Enquanto as palavras do ódio são ecoadas Gritadas Viram balas E crianças perfuradas Como (re)agir ao ódio sem se consumir? Como vencer com o amor Quando o encarceram e trancafiam a esperança Assaltam o povo e lhe roubam o que há de mais importante: - Sua

Céu, estrelas e vida

Se meus olhos fotografassem Registravam o céu que vejo em minha janela Mas minhas retinas só registram O que carrego na memória O telescópio do buraco negro Tiraria foto mais bela Mas não veria a longínqua e bela Estrela da minha janela Pontinhos brilhantes Iluminam o negro céu Lindos e distantes Emoldurantes, cravejantes Olhando para o universo Enxergamos nosso reflexo Cada luz brilhante É um pouco do nosso verso Cada estrela, cada planeta É um ser humano na terra Somos grandes, importantes Pequenos em meio a grandiosidade Somos tudo, somos nada Somos cada um, um pouco Um dia, quem sabe, entenderemos Que juntos somos O Todo Gustavo Afonso

Segunda-feira

Sinto o tempo O dia nasceu tal qual meu sentimento Olhar perdido pela janela do coletivo (sem ar condicionado, com passagem recém aumentada) Chove em mim O azar acorda cedo Enquanto a sorte, dopada, teima em dormir Sem reclamar; agradeça o azar que te permite escolher Aberta: deixa chover Fechada: deixar o suor escorrer Meus fones de ouvido não cumprem seu trabalho Não me impedem de ouvir a viária trilha "Abençoados bons dias” nos grupos de família Muito otimismo bom dia em um dia Que amanhece noturno Lembrando a cada segundo Que a noite não se foi Que a dor não me deixou De guarda chuva guardado, caminho, deixo a chuva bater É pouca, não faz o mato seco verter Fora da faixa, atravesso Faço uma analogia da minha vida Sinto o sofrer E, sabe se lá porque A única coisa que me vem à mente é: dane-se Gustavo Afonso

Declaração ao Brasil

Não torço contra governos por questões ideológicas ou outras, ainda mais mesquinhas, como ocorreu com parcelas sociais durante o governo Dilma. Aliás, não houve somente torcida contra, como um covarde boicote ao Brasil, o que é muito pior. Tenho a consciência tranquila de torcer sempre pelo que considero melhor para o meu país e para todo o povo. A única torcida possível neste momento é para retomarmos urgentemente rumos democrático s, de justiça social, respeito à Constituição e soberania. Estes rumos, imprescindíveis para o desenvolvimento social e econômico do Brasil, não serão alcançados através de um governo: eleito por farsas e crimes eleitorais; comandado pelos verdadeiros e grandes corruptos; composto por amadores, fanáticos e idiotas; subserviente a escusos interesses (alheios aos do nosso povo) de países como EUA e Israel; pautado pela exclusão e discriminação de índios, gays, negros, mulheres; voltado às elites econômicas; aliado de um judiciário que corrompe a justiça, fiad