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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Hoje, poeta

Hoje, sou capaz de escrever, escrever, escrever... Embebedar-te de palavras Engasgar-te de rimas Entupir-te de versos E te matar de poemas Hoje, posso não parar Destacar cada detalhe Cada gesto, brilho, sorriso, olhar Hoje, sou perdurar Hoje, posso de tudo falar Posso boa sorte considerar Ou até lamentar Hoje, posso inventar Hoje, posso comemorar O momento, o encontro, o estar Hoje, posso, também, chorar O que sei que não será Posso mudar a perspectiva Cambiar o sentido Engatar a ré E, junto, acelerar Hoje, não faltam versos Nem sequer sonetos Hoje, não falta concreto Nem tinta, nem gesso Hoje, sou abundância Digo, desenho, crio Hoje, posso não acabar Sou presente de futuro e lembrança Hoje, não durmo Para nunca mais me tapar Da noite, noturno Sei que o dia poderá me calar Rogo, grito, esmurro Temo o sono a me atraiçoar Resisto, impero, me iludo Seguro minutos e arrasto segundos Percebo, entendo, me entrego O dia precisa nascer E o abajur

Escrever

Escrever é desabafar com a alma Falar quando o peito engasga Gritar quando a dor amordaça Agir quando o medo te trava Ousar quando a coragem acovarda Escrever é transmitir com uma palavra Dizer com uma vírgula Fazer entender em qualquer língua Escrever é criar Recriar Transformar É dar sentido à vida Escrever é escapamento De lixo, dor, sofrimento Escrever é escape De carinho, amor, sentimento Escrever é saída única E beco sem saída Escrever é fuga É liberdade entregue, perdida Escrever é ganhar força É aprender a sofrer Escrever é acostumar Escrever é, plenitude, viver Gustavo Afonso

Arrependimento

Arrependimento O pior dos sentimentos Eu podia, eu podia, eu podia... (e devia?) Podia ter feito diferente Mudado o destino Convencer o corpo, a mente Trocado o sentido Uma palavra bem pensada Uma palavra abafada Palavra instinto, solta, voa Vale palavra mal falada? Um convite apressado Um silêncio congelado Crio, invento, jogo Ou me deixo ser jogado? Nunca soube jogar Sempre joguei com o fígado, com os nervos Sempre acelerei pelos medos E fui tomado pelos desejos Um gesto muda tudo Ou nem mesmo o olhar O toque, o cheiro, o jeito E se tentasse aquele beijo? O mais difícil é o limite O que posso, onde, como Até onde minhas ações podem mudar o meu, o seu, o nosso caminho Rumo Basta querer? Agir por impulso Ou pensar muito antes de fazer? Penso Teu encontro me desencontrou Desde que te encontrei No mirado (insistido, suado), marcado ou fortuito Foi no ponto que desencaminhei Posso te convencer? Ainda posso? Começou tarde (ou antes da hora) o

Papel vazio

Havia tempo sem tinta no papel Sobrava muito e faltava o que devia Mas teu sorriso, só na memória A pele arrepiada A voz do João, o Nogueira, ao fundo Lembraram-me o sofrer Fizeram-me escrever Bom é ser neutro, muro Não sentir Mas quando a gente sente E desce a cachaça ardente Os acordes são mais dolentes Doentes O choro sai O texto vai Paralisa Falta rumo na vida O que falta até uma criança adivinha É o sorriso, teu sorriso ou outro É encontrar o sorriso Ou reencontrar É encontrar o sentido Ou se deixar levar João se cala, canta Edu Ao arranjo do Tom Nos caminhos do som Que bom seria Se o piano da canção A gaita e o acordeão Entonassem minha vida Mas o que me leva é descaminho O que me arrasta, me descarrega Solta, me rasga, me cala, me rala Mantém-me mais sozinho Gustavo Afonso