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À sombra da cruz

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Da santa fé  À Santa Cruz Ajoelhou, disse: "Jesus... como está difícil viver..." Não mais que de repente Apagou-se a noite, fez-se luz  Corpo inclinado, aos pés da cruz Ao longe, um choro (do cavaco) Regado a cachaça e carteado Cantava o delegado (Do samba) Enquanto o fardado era subornado Berrava o ambulante  E quem não ouvia nada era a gestante  Que de tanta dor, na fila do corredor  Via seu filho vir ao mundo Bem diferente de como vem  Filhos de doutores vagabundos O choro era sentido Mais nas outras zonas que na sul Chorava o pobre e o mendigo. Debochava o bandido  Gargalhava, da Barra, o político  E a sede de justiça dos xerifes de postes Era inalada em seus papelotes de cocaína  Escondia-se em sonegações Afogava-se nas propinas  E o dia, que nascera, terminaria  Com mais alguma chacina Em algum canto largado e esquecido  De um país tão rápido destruído Por Golpes estrangeiros  E privilégios dos que aqui

Sentimento desenhado

Assim havia começado Primeira noite Primeiro traço Primeiro beijo, primeiro marco Assim continuado Olhares e carinhos Doces palavras e abraços Toques cada vez mais demorados Assim perpetrado Pele com pele Corpos molhados Ocupando, por desejo, o mesmo espaço O que antes passava, havia ficado Acostumado, viciado Martelava a mente, ficava gravado Canal sintonizado, controle quebrado O sorriso passara a acordar ao lado O cheiro ficava grudado Quando olhavam-se sós, sentiam-se esvaziados Faltava-lhes algum pedaço Em sonhos já infestados A presença trocou significado Mesmo distanciados O essencial permanecia aconchegado O ator fugia ao ensaiado Ao som do jazz rascunhava um futuro moldado Enquanto abandonavam seus passados Projetavam, juntos, um mundo mudado E de momentos tão registrados De corações já enlaçados Ninguém pensava em findado O sentimento que era trocado O quase, tornara-se fato Não limitar, por completo adequado Todo sentido encontravam,

Confusão

Imploro para vomitar palavras E desabafar meu peito O choro preso aturde E quando vem, mesmo a soluçar, não amortiza o sentimento Tudo confunde, passa a chave na alma Sufoca prendendo a respiração Se dói e incomoda tanto Como ousam chamar de paixão? Que droga de troço é esse!? Ninguém me convence que é bom Embrulha como um caixote de ressaca Gira tanto que me faz sentir um peão E de tanto ver o mundo girar Você perde a noção de onde está Fica meio louco, insano Cala a boca pra não gritar Vendo os olhos pra não enxergar Calo vozes pra não escutar Abafo a mente pra não pensar Aperto o peito pra não gostar A única certeza que sinto É do erro persistente Silencio quando devo falar Ajo demais antes de pensar (E o acorde de uma música  O colorido de um dia  Uma voz ao longe  Um jeito de menina...) Só queria normatizar Mergulhar sem me afogar Um rodamoinho me suga Só espero ainda saber nadar... Gustavo Afonso

Tesão

Quero mais dos teus lábios Em cada detalhe do meu corpo Quero beijar tua boca, navegar em teus caminhos Causar-te doces arrepios Quero afogar-me no teu gosto Saciar-me no teu cio Quero mergulhar no teu corpo Preencher o teu vazio Quero grudar em tua pele Prender-te em meu peito Imergir em teus anseios Despejar-me em teus seios Quero ensinar-te o que sei E aprender com teus desejos Transgredir, rasgar a lei Irromper todos os teus medos Quero que a noite dure Tempo suficiente de te moldar em meus braços Quero que teu gozo fixe, cole, grude Nossos corpos exaustos e molhados Quero provar o teu melaço Sentir teu desejo mais profundo Quero invadir o teu espaço Perder-me em teu mundo Quero ser devagar Para que não tenha pressa de terminar Quero marcar, destacar Quero te excitar só de lembrar Quero ser toque sensível De carícia precisa Quero enxergar em teu rosto Teus instintos de menina Quero ser presa de tuas provocações E incitá-la com suaves ações

Refluxo

Eu não durmo porque penso demais  E pensar muito me enjoa Vomito mal ditos e ditados    Que me recortam em deformados pedaços Tenho um refluxo que me para no peito E golfar versos um grande alívio me traz Higieniza o corpo, expulsa o marear Devolve-me o ar, um tanto bem me faz O que me embrulha não são bem palavras São sentimentos mal mastigados  Amores mal digeridos  Feridos, sangrados, mal resolvidos  São paixões recheadas de espinhas Que travam na minha garganta  Engasgo, quase morro e cuspo Um balde de desesperança  Meu amor é validade vencida É comida estragada  Que por fome de vida Empurro goela abaixo Meu amor me intoxica  Infecciona minha alma Amarra-me à latrina Desespera minha calma Meu amor é mutilado Distorce os sentidos de tanto doer Meu amor é dilacerado Mas é o amor que me faz viver Gustavo Afonso

Luzes da rua

O engraçado é que é sempre igual Aos poucos sentindo menos Lágrimas parando de brotar E o sentimento morrendo O curioso é que é uma sensação estranha Parecem as luzes da rua se apagando enquanto a manhã vai surgindo Quando as luzes apagam, escurece Mas aos poucos a manhã vai acendendo e colorindo O medo é que o dia nasça feio Clamando às luzes da rua Com elas apagadas, o quê vou ver? Nem sol, nem estrelas. Nem planetas, nem lua Esses momentos da vida são difíceis São transições Cantam passarinhos e corujas Voam morcegos, urubus e gaviões São dias bipolares Alternam temor e esperança Um dia vemos futuro Noutro passado e lembrança E a lembrança é ralada Pode até uma lágrima escorrer Lágrima retida, guardada Escorre sem perceber E se for lágrima nova? É difícil saber Só resta apagar as luzes E esperar o amanhecer É tempo novo, não tenho dúvida De um passado enfumaçado O problema é o futuro Ser um vídeo tape arranhado Sinto-me um amanhã amarrado Ou

Soneto do Dia

Amanheci com saudade  E com vontade de chorar  Foi-se o medo de ficar Escondi a minha idade Amor tarda em acordar? Amor padece e anoitece? Amor se perde e escurece? Ou só existe se brilhar? Talvez seja só o frio Um instante de vazio Um perdido descaminho  Mas se for pra luz como o sol Pro teu olhar alerta de  farol Azul seja como o dia se anuncia

Um pouco menos rascunho

Introdução  E na insônia de feriados inacabados Surgem rascunhos de sonhos desbotados Surgem versos de amores arranhados Desabafa a alma de tropeços infundados ---------------------- Da sorte nunca fui amigo Não sei o que é um amor tranquilo Não sei o que é um amor amado Sei o que é um amor chorado De tempos em tempos meia dúzia de palavras surgem E desafogam o peito enquanto lágrimas rolam Inundam e transbordam meu aquário Com muitas sobras do meu velho armário Eu sei, só sei sentir E tenso, não consigo sorrir E confuso, não consigo partir Penso muito, mas não chego a existir Pra existir falta... Falta mergulho, profundidade Falta um nó bem, bem amarrado E um baú bem trancado No meu peito nada fica De dia sinto, de noite finjo De madrugada choro e não durmo Afogo-me, noturno E palavras que imploro e quase sempre teimam em não vir Nas insônias explodem a surgir Umas com sentido, outras surreais Vibro como um gol de honra. Algum sentindo isto me faz