À sombra da cruz
Da santa fé
À Santa Cruz
Ajoelhou, disse: "Jesus...
como está difícil viver..."
Não mais que de repente
Apagou-se a noite, fez-se luz
Corpo inclinado, aos pés da cruz
Ao longe, um choro (do cavaco)
Regado a cachaça e carteado
Cantava o delegado
(Do samba)
Enquanto o fardado era subornado
Berrava o ambulante
E quem não ouvia nada era a gestante
Que de tanta dor, na fila do corredor
Via seu filho vir ao mundo
Bem diferente de como vem
Filhos de doutores vagabundos
O choro era sentido
Mais nas outras zonas que na sul
Chorava o pobre e o mendigo. Debochava o bandido
Gargalhava, da Barra, o político
E a sede de justiça dos xerifes de postes
Era inalada em seus papelotes de cocaína
Escondia-se em sonegações
Afogava-se nas propinas
E o dia, que nascera, terminaria
Com mais alguma chacina
Em algum canto largado e esquecido
De um país tão rápido destruído
Por Golpes estrangeiros
E privilégios dos que aqui nasceram
Mas não tem nada de brasileiros
Mas não tem nada de brasileiros
Vivem pra si
Como se aquele que morreu por nós
Na santa cruz
Na santa cruz
Tivesse criado pra eles a luz
E para o resto o azar da escuridão
Não sei se torço pra divina sentença
Conter algum perdão
Conter algum perdão
Duvido que mereçam
Qualquer tipo de compaixão
Qualquer tipo de compaixão
Que a sábia justiça de quem enxerga
Dentro dos nossos peitos a carniça
Dentro dos nossos peitos a carniça
Recaia com peso certo sobre cortinas
Trazendo à tona a entapetada malícia
Queimando toda erva daninha
Esperançando, agora ou na hora certa
Corações que sofrem, não sucumbem e mantém
Corações que sofrem, não sucumbem e mantém
A verdadeira fome e sede da justiça
Gustavo Afonso
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