Hoje, poeta

Hoje, sou capaz de escrever, escrever, escrever...
Embebedar-te de palavras
Engasgar-te de rimas
Entupir-te de versos
E te matar de poemas

Hoje, posso não parar
Destacar cada detalhe
Cada gesto, brilho, sorriso, olhar
Hoje, sou perdurar

Hoje, posso de tudo falar
Posso boa sorte considerar
Ou até lamentar
Hoje, posso inventar

Hoje, posso comemorar
O momento, o encontro, o estar
Hoje, posso, também, chorar
O que sei que não será

Posso mudar a perspectiva
Cambiar o sentido
Engatar a ré
E, junto, acelerar

Hoje, não faltam versos
Nem sequer sonetos
Hoje, não falta concreto
Nem tinta, nem gesso

Hoje, sou abundância
Digo, desenho, crio
Hoje, posso não acabar
Sou presente de futuro e lembrança

Hoje, não durmo
Para nunca mais me tapar
Da noite, noturno
Sei que o dia poderá me calar

Rogo, grito, esmurro
Temo o sono a me atraiçoar
Resisto, impero, me iludo
Seguro minutos e arrasto segundos

Percebo, entendo, me entrego
O dia precisa nascer
E o abajur do meu sono
Apagar o meu escrever

Um sonho, talvez
Acenda a minha mente
Renove a inspiração
Prorrogue a produção

Solto, vejo o dia viver
O que vier, venha
Que cale, doa, afague
Mas que me deixe, em linhas tortas, gritar para ti que me lê

Gustavo Afonso

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