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Sobre

Há limite para a sede? Há de cultivar o bastante, mas para a alma? Somente asas para sonhos? Somente cometas para voos universais? Há demasia de estrelas para o infinito? Há exagero no que transborda? Há muita água no rio que invade o oceano, se transforma, se mistura? Que mistério há em duas vidas que se tornam uma?  Há pecado no profundo mergulho?  Há loucura no desejo de se afogar de ar e respirar o mar? Há insanidade na mais brilhante fantasia? Há amor demais que clareia a noite e estrela o dia? Para a falta, para o muito e para o todo,  o que define, incendeia e redime  é a simples imensidão que há.  É a poesia.  É ela que me corrói, me constrói e constitui.  Que me afasta e me seduz.  É nela que por vezes passo e é nela que como corpo quero morar.  Vagar sem rumo, parar no tempo, passar e viver. E como espírito, é na poesia, de palavras escritas, gritadas, não lidas e não ditas,  que desejo transcender. Gustavo Afonso

Em todas as coisas

Tira teu prazer No sol e na chuva Saiba ver, ouvir e sentir  Tira teu prazer No canto dos pássaros E no barulho do tráfego  Tira teu prazer na música, nos versos e na melodia Tira teu prazer nos livros  Na escuridão da noite e na luz do dia Tira teu prazer no silêncio e no canto Tira teu prazer no sorriso e no pranto Tira teu prazer no frio, no quente Tira tua lição da dor Plantando amor  E tira teu prazer  Aprendendo a aprender Tira teu prazer de viver  Em com a alma enxergar  Tira teu prazer em Ser Tira do teu prazer todo conteúdo  E tenha prazer no saber Tira teu prazer no gozo E na oração Tira teu prazer no pronto E na construção  Tira teu prazer na gratidão  E no desfrutar Tira teu prazer em tudo, um pouco e tanto Tira teu prazer no mais completo amar Gustavo Afonso 

Tribo

Qual é minha tribo Se eu não me incluo Se eu mesmo me excluo Se eu não me encaixo  Se eu não me mudo Se eu não me engano  Se eu não me largo Se eu não me estrago Qual é minha tribo  Se eu nao me castro Se eu não me troco  Se eu nao me apago Qual é minha tribo  Se eu sou Eu E não sei ser outro Qual é minha tribo Se sou só rocha Em meio ao 'ouro' Qual é minha tribo Se às vezes sou pérola No meio do lodo Eu sou minha tribo  E, talvez por isso Nunca me mire E, talvez por isso Me encontre, me identifique Eu sou minha tribo  Sou Eu Difícil ser Mas sou. E serei e seguirei Gustavo Afonso 

Talvez

Talvez eu goste um pouquinho da dor De um pouquinho sentir sofrer Talvez eu goste do barulho Ou de um silêncio de ensurdecer Talvez eu goste de tanta coisa Que às vezes não goste de nada Talvez eu beba Pra assistir a realidade mudada Talvez eu seja assim Talvez não seja Talvez dance numa festa Com o espírito cochilando sobre a mesa Talvez eu seja mais um Talvez eu seja Um em um milhão Talvez eu seja só letra Talvez eu seja canção Talvez eu escreva No meio da confusão Talvez eu emudeça No silêncio da imensidão Talvez eu tão e simplesmente queira Falar, ser ouvido Talvez ninguém entenda Talvez não seja vivo Gustavo Afonso

Sentir

Quantos amores eu tive De uma noite, um dia, uma semana ou um mês Quantos amores eu tive Que não foram amores, nem tampouco paixão Quantos desamores eu tive Que não foram sequer decepção Quantas vezes senti e passou Quantas vezes não senti e desejei Quantas vezes nem sequer sabia o que sentia Quantas vezes escrevi sem saber porquê, pra quê e pra quem Quantas vezes escrevi pra você, pra ela ou pra mim Quantas vezes quis matar o que sentia Quantas vezes quis fazer nascer Tantas vezes que - clichê - não sei se mais sorri ou se chorei Se emoções, de verdade, eu senti Ou apenas deixei de Quantas vezes vivi Quantas vezes morri E, em quase todas as vezes, não sei nem o que senti Como definir O indecifrável Como entender Sem se? Mas, sentir - ou não - é, foi e será viver E, hoje eu sinto Só continuo sem saber porquê Gustavo Afonso 

Travessia: Um cantinho de céu

Eu prefiro as lágrimas Que as crises de angústia Sonho com a tristeza Porque ela me faz sofrer em paz Escrevo uma carta ao Tom (74), à Bethânia ou à Juliana  Vivo meio samba, pagode e rock n'roll Sonho de Tam, Azul ou de Gol Mas queria ir de Trem Com o Clube  E, mesmo sonhando Realmente - com meu braço - fazer o meu viver   Mas vou pela estrada Esburacada, enlameada Rumo à estada Onde meu coração pode chegar  Vou ao Leme, à Urca, ao Arpoador Eu desejo Minas, São Paulo, Salvador. Ou até o exterior  Enquanto ainda olho, da janela, o Redentor Eu escrevo enquanto bebo (ou depois) E vez ou outra choro enquanto dói Mas meu choro hoje machuca menos Não me mata, nem tanto me rói Os discos já tocam e não mais arranham meus ouvidos Tô no caminho No fim do vício (ou no início?) Talvez no final do ciclo Maldito. Bendito Eu vivo Ou sobrevivo Tem horas que nem isso Mas, eu sigo Não paro. Eu ajo, eu faço  E acho que isso é viver Se por um minuto eu esqueço Acho que isso é...

Vivendo e escrevendo

Queria existir de sonhos E me alimentar de poesia Subsistir de escrever, escrever e escrever... Pra nenhum dia sentir sem sentido a vida viver E viver em estado pleno Sob o sol, imerso ao sal, sentindo o vento Numa ilha de palavras inventadas Mensageiras reais, literais, de sentimentos E nesse universo diferente, desobrigado, da gente Transcender, crescer, escrever e viver Naturalmente, com você Um poema novo a cada dia Um recital espontâneo a cada noite Uma coletânea por mês Datados, ironicamente, por um existir sem tempo Um existir renovado Em sono acordado Energizado por sorrisos À luz de luares tingidos Tingidos por versos simples Jamais escritos Telepaticamente transmitidos Da minha alma ao infinito                                   Gustavo Afonso