Jornada Mundial da Juventude: o legado da saudade
Sem dúvida, o maior legado que ficará da Jornada Mundial
da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, é a saudade. E se o maior legado é a
saudade, é sinal de que os melhores legados possíveis foram escritos. Legados
que atingiram e atingirão o social (coletivo) e o humano (individual).
Hoje, o ser humano carece de fé. Não religião, criada
pelo homem e que sofre, infelizmente, com falsos profetas, oportunistas e
criminosos, mas fé. A fé que carrega humanidade, a fé que carrega o bem comum.
Esse sentimento foi transbordado e atingiu a todos que aqui estiveram.
O mundo se encontrou no Rio de Janeiro. Como nunca se viu
nesta cidade. Como nunca se viu em Copacabana, tivemos um público beirando 4
milhões de pessoas nas areias. Quase 4 milhões de pessoas não para o Revéillon,
não para o show de uma banda, mas para acompanharem, juntas, aos eventos com o Papa
Francisco. Papa esse que cobrou o que deve ser cobrado e o espírito que deve
estar sempre conosco, da justiça social, tema que avançamos muito no Brasil nos
últimos anos, do diálogo, do respeito e maior atenção dos jovens às vozes da
experiência, da ausência do preconceito e do egocentrismo.
Para a grande surpresa dos cariocas, acostumados a megaeventos,
o clima era de total paz. Não havia confusão. Não havia qualquer temor no ar.
Nada. Apenas um sentimento de paz.
E essa paz deve-se ao objetivo. Todos que vieram de
outros países, todos que vieram de outros estados brasileiros, todos que vieram
de outras cidades, todos os moradores do Rio de Janeiro, todos os que se
juntaram, como eu, à contagiante alegria da JMJ, possuíam apenas um objetivo e
com isso externavam apenas felicidade, amor.
Toda ausência de estrutura foi compensada com uma
hospitalidade peculiar ao povo do Rio de Janeiro, ao povo brasileiro.
Os gastos públicos com a Jornada Mundial da Juventude
foram completamente compensados. Tivemos, na cidade, o maior fluxo turístico da
história. Tivemos quase 2 bilhões de reais injetados na economia. Tivemos a
imagem do Rio de Janeiro exposta e muito bem exposta. Tenho certeza de que
todos que aqui estiveram, retornarão para matar a saudade do Rio.
Possuo minha religiosidade própria, baseada no
cristianismo. No entanto, não sou católico, não sigo qualquer religião. Desta
forma, creio possuir imparcialidade para dar o depoimento de que jamais vi algo
igual. Jamais vi tamanha integração entre povos totalmente diferentes. Como pregava
Jesus Cristo, assistimos à união dos povos, independente de sua origem, cor, idioma,
classe social, deficiência. Independente até de seu credo. A Jornada, com todo
seu acolhimento, o Papa Francisco, com toda sua humildade e simpatia,
conquistaram junto a todos os credos um grande carinho.
Li muitos questionamentos relacionados à animação, a empolgação
dos jovens religiosos. Realmente foi surpreendente. A imagem que tínhamos em
geral, a imagem que esperávamos ver, era de maior recolhimento. Muitos
acreditavam que tamanha alegria só era possível em jogos de futebol. Vimos algo
inimaginável.
A fé moveu milhões. O amor moveu milhões. A fé não é
triste. A fé é alegre como a expressão feliz que vimos no rosto de cada jovem que
aqui esteve. A força da fé chegou a espantar manifestações de objetivos
escusos, que saíam em direção à Jornada e foram repelidas pelo povo
participante, sem qualquer agressividade, apenas com resistência pacífica, tal
qual Gandhi, um dos maiores líderes espirituais da história da humanidade. Aproveito
o tema religião para citar um de seus mais lindos pensamentos: “As religiões
convergem todas para um mesmo ponto: para Deus... E Deus não tem religião”.
A chuva e o frio, quase recorde na cidade, não afastaram,
não calaram, não desanimaram os jovens. Deus, de lá de cima, parece ter
ajudado. Não havia cenário mais lindo do que a Praia de Copacabana, aos olhos
do Cristo Redentor, já com a luz do sol presente, para o encerramento dessa
Jornada de amor. A população de Guaratiba, local que receberia a vigília e o
encerramento do evento, será compensada, como merece ser, conforme anunciado na
Missa de encerramento.
Tenho certeza de que o povo carioca, em grande maioria,
sentirá muita saudade do Rio de Janeiro tomado. Tomado por alegria, por amor,
por paz, por fé. Todos os inconvenientes de mobilidade para quem vive na cidade
ficaram em segundo plano e passaram praticamente despercebidos.
Os estrangeiros que aqui estiveram, sorriram. Os
brasileiros, de outros estados, que aqui estiveram, sorriram. Os cariocas
sorriram. O Papa sorriu. O povo, unido, sorriu.
Jesus Cristo sorriu.
Gustavo Afonso
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