QUER SER CAMPEÃO DO CARNAVAL CARIOCA? É SIMPLES!
Não precisa se preocupar com acabamento das fantasias, beleza dos carros. Joga um monte de gente lá em cima, bem coreografada e pronto. Mas isso já tá manjado? Não tem problema, o pessoal finge que é novidade.
Samba? hahahaha. Não se preocupa com isso! Faz qualquer samba, pode ser feio, não tem problema não. Mas o nome é Escola de Samba? Isso hoje em dia é decorativo, rapaz. Não liga pra isso, não.
Ah, não esqueça de bagunçar bem o enredo. De preferência coloque alguém esquiando, andando de carro, e muitos personagens de desenho animado, coisas bem brasileiras. O Carnaval é brasileiro? hahahahaha. Era, meu amigo!
Gente sambando? Tá maluco? Vai colocar alguém sambando na Avenida?
Preste atenção sempre na ordem do desfile. Nunca desfile no domingo, sempre na segunda-feira. E de preferência fechando o desfile. Relaxa, esse sorteio é marmelada, mão no saco. Mas ninguém fala nada não, fica tranquilo.
É sempre bom um patrono forte. Sabe como é, né?
Arrume um bom patrocínio, bastante grana. Não é pra beleza do desfile não, é pros jurados mesmo. Eles vão ver o que o público não viu. Vão ver o que os especialistas não viram. Mas não vai dar nada. Depois o pessoal diz que foi justo e merecido. Mesmo que o povo diga o contrário.
Jamais cite, homenageie ou seja visto ao lado de figuras nobres do samba. Procure sempre esconder, enterrar a raiz do Carnaval.
Nunca se esqueça de ter portas abertas na Globo, ok? Eles não vão contestar seu título de maneira alguma.
Agora, assine o desfile como Paulo Barros e seja feliz.
Só um P.S. Feliz, confesso, você nunca vai ser. Porque a alegria de ganhar um Carnaval no samba, a energia de um bom samba, a empolgação, o gosto e o reconhecimento popular e do mundo dos bambas, você nunca terá. Você colecionará títulos, mas nenhuma felicidade. Você não ficará marcado na história. Não será lembrado. Apenas pelos tempos tristes em que o samba no Carnaval do Rio de Janeiro foi preterido, trocado, humilhado e enfiado à força no fundo de um baú, com a viola de Paulinho, as letras de Cartola, o sax de Pixinguinha, a voz de João Nogueira, os Orixás do Salgueiro e o Piano da Mangueira.
Gustavo Afonso
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