Luzes da rua

O engraçado é que é sempre igual
Aos poucos sentindo menos
Lágrimas parando de brotar
E o sentimento morrendo

O curioso é que é uma sensação estranha
Parecem as luzes da rua se apagando enquanto a manhã vai surgindo
Quando as luzes apagam, escurece
Mas aos poucos a manhã vai acendendo e colorindo

O medo é que o dia nasça feio
Clamando às luzes da rua
Com elas apagadas, o quê vou ver?
Nem sol, nem estrelas. Nem planetas, nem lua

Esses momentos da vida são difíceis
São transições
Cantam passarinhos e corujas
Voam morcegos, urubus e gaviões

São dias bipolares
Alternam temor e esperança
Um dia vemos futuro
Noutro passado e lembrança

E a lembrança é ralada
Pode até uma lágrima escorrer
Lágrima retida, guardada
Escorre sem perceber

E se for lágrima nova?
É difícil saber
Só resta apagar as luzes
E esperar o amanhecer

É tempo novo, não tenho dúvida
De um passado enfumaçado
O problema é o futuro
Ser um vídeo tape arranhado

Sinto-me um amanhã amarrado
Ou um presente que se agarra nas lembranças
Um doente, dependente
Morto de medo das mudanças

Uma parte talvez seja mesmo dependência
Uma parte culpa da beleza e da intensidade do que vivemos
Outra, talvez, medo de perder uma pessoa como você
Mais provável que seja um misto de sentimentos

E tem mais
As lembranças ainda podem existir, querer voltar
Como vou saber lidar?
Meu amor, só o tempo dirá...

E o meu amor pode ser o passado
Pode ser o confuso presente
Meu amor pode ser o futuro
Ou até um amor doente

Meu amor pode ser você
Meu amor pode ser ela
Meu amor pode ser o que vou ver
Meu amor pode ser o tal poste aceso de luz fraca e amarela

Meu amor pode estar nascendo
Meu amor pode já ter morrido
Meu amor pode estar morrendo
Meu amor pode nunca ter vindo

Hoje, meu amor é você
Mas você não dói mais
E depois de amanhecer, entardecer, escurecer
A madrugada um dia novo traz

E a escuridão anuncia
Que vai levar meu sentimento
E as estrelas me confessam
"Não é tão simples e rápido! Vai levar um tempo..."

Pedem paciência
Eu digo que aguento
Difícil era quando eu chorava
E não sentia algum alento

Hoje, ao menos ando
E deixo a luz da vela morrer
Não sinto tanto medo
De assistir ao sol nascer

Abro os olhos e sinto de novo
Ainda pode ser você
Mas a noite que transcende
Sussurra ao confirmar que um novo dia vou viver

Gustavo Afonso


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