VIVAM O SONHO!
Tenho 22 anos de idade e, conforme o clichê sou apaixonado por futebol, como todo brasileiro. Nunca vi uma Copa do Mundo em meu país. Nem meu pai viu. A 7 dias do início, a ficha ainda não caiu. É aqui mesmo? É no Brasil? A Copa do Mundo? No meu quintal? Ah, ta brincando! Estamos acostumados a ver de longe, estamos acostumados a participar da festa. Mas agora nós faremos a festa. E, sem modéstia alguma mesmo, disso a gente entende. Bem mais do que eles.
Talvez eu, e muitos brasileiros, tenhamos demorado tanto a
ter consciência de que estava chegando e realmente iria acontecer devido a diversos
fatores. Sem dúvida as manifestações, o caos orquestrado, o bombardeio
midiático nos contaminaram. Batia certo medo de acontecer alguma coisa mais
séria e o sonho não se realizar. Então pra quê sonhar? Íamos acompanhando os
fatos, aguardando no que tudo ia dar, mesmo tendo sempre a esperança típica do
brasileiro de um final feliz.
O medo da não realização da Copa e um bocado de
manifestações contra, fora a parte política, também vem do complexo de vira
latas peculiar ao brasileiro. Nelson Rodrigues definiu com maestria nosso
sentimento de incapacidade de fazer igual ou melhor do que os outros,
inferioridade que o brasileiro criou, devido a toda sua história, e todas nossas
sociedades aceitaram. A festa ainda nem começou e já estamos recebendo elogios estrangeiros em áreas que jamais imaginávamos receber. Quem sabe a Copa também não seja uma oportunidade de, não digo vencer, mais melhorarmos deste maldito complexo?
Por falar em Nelson Rodrigues, como ele merecia ver outra
Copa no Brasil. Quem sabe não se vingava de 50? Mas aposto que está torcendo
como um louco ao lado de Mário Filho e, com certeza bradando ao céu inteiro,
com muita propriedade, de que tinha razão quanto ao nosso complexo. Outro tema
que o escritor e apaixonado por futebol definiu com muita precisão foi que
somos “A Pátria de Chuteiras”.
O Brasil é o país da bola. O futebol é a maior manifestação
cultural brasileira. No nosso país não é só um esporte, é uma ferramenta social
magnífica, difícil de ser definida. O futebol só não nasceu aqui por acaso. Mas
não se assustem se um dia descobrirem que os índios estavam batendo uma bolinha
quando Cabral desembarcou. O maior evento do mundo vai ser, não só na nossa
casa, mas na casa do futebol. A casa dos campos de terra, das bolas de meia,
dos meninos franzinos que driblam os zagueiros e as dificuldades do dia a dia
com a mesma ginga de Mané Garrincha. Ah, Mané! A alegria do povo! Quem dera
estivesse nesta Copa! Seria a alegria do mundo, Mané!
A Copa pegou, o espírito se espalhou pelo ar. Não tem mais
jeito. Aos frustrados, desinformados ou mal intencionados, sinto-lhes dizer que
perderam. Na verdade, não sinto nem um pouco. O sentimento agora é de alegria.
O mundo se encontrará no Brasil e isso é fantástico. Conhecerão nossa cultura,
nosso jeito, nossos problemas, mas nossas virtudes também, que não são poucas.
Vivam o sonho! Vivam intensamente! Infelizmente este sonho
irá durar pouco. Logo iremos acordar, lembrar de quão gostoso foi sonhar, e
cair na realidade de que talvez nunca mais tenhamos um sonho tão lindo na vida.
Que cada segundo seja sentido para ser guardado e fotografado pra sempre em
nossas lembranças.
No futuro, irei dizer aos meus filhos que vi e espero, com o
brilho dos meus olhos, conseguir transmitir toda a emoção que senti.
Está tudo em casa. Brasil 2014.
Gustavo Afonso
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